“Como juiz sou infelizmente mais preso ao devagar que sempre espero. Eis-me. Fui alistado e apresento-me a mim mesmo. E tomba uma gota de ouro. A realidade é mais inatingível que Deus — porque não se pode rezar para a realidade.” – Em: Um Sopro de Vida.
“Bem sei que estou no escuro e eu me alimento com a própria e vital escuridão. Minha escuridão é uma larva que tem dentro de si talvez a borboleta? Está tão escuro que estou cego. Eu simplesmente não posso mais escrever.” – Em: Um Sopro de Vida.
“Se sou um escritor há muito tempo, só posso dizer quanto mais se escreve mais difícil é escrever. Faço concorrência comigo mesmo? Estou, por exemplo, querendo escrever sobre uma pessoa que inventei: uma mulher chamada Ângela Pralini. E é difícil. Como separá-la de mim? Como fazê-la diferente do que sou? Uma coisa é certa e é inútil tentar modificar: é que Ângela herdou de mim o desejo de escrever e de pintar. E se herdou esta parte minha, é que não consigo imaginar uma vida sem a arte de escrever ou de pintar ou de fazer música. O que quer Ângela da vida? Aos poucos descobrirei. Ao mesmo tempo em que descobrirei o que quero da vida.” – Em: Um Sopro de Vida.
Clarisse Lispector
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