Faz já um bom tempo que ando esperando que alguém se anime – ou se atreva; a trazer a público a trajetória de Guilherme Motta Faria – Guaral – no seu, emaranhado e repleto de obstáculos; caminho na Cultura de Cabo Frio. Esperava que gente como o prof. José Facury, ou Silvana Lima se manifestassem, até porque são do mesmo ramo e tiveram convivência (e conhecimento) maior e melhor que o meu com nosso perseverante e otimista companheiro.
Fui impelida a fazê-lo agora em parte por impaciência e em parte pelos desfechos improváveis, mas nada surpreendentes que vem permeando a administração (?) pública por estas plagas; e ainda a pedido da equipe do Cartão Vermelho. E espero, dentro das minhas parcas e pontuais lembranças, fazer jus à tarefa que me foi confiada. Ainda que mais não seja relatando minha experiência pessoal.
A primeira vez que tive contacto pessoal com Guaral foi quando um dos meus Marchands (AB Galeria) me pediu que desse uma entrevista no canal 10, já lá se vão uns bons 5 anos. Fui muito bem recebida por um rapaz rechonchudo e sorridente que pensei ser da produção do programa – não era; era o próprio entrevistador, que não sei por que cargas d’água eu achava que seria alguém mais velho e sisudo, talvez fosse porque tinha substituído o prof. Facury na direção do Teatro Municipal, ou por alguma coisa que me tenham dito a respeito dele, sei lá... Só sei que foi assim – como diria o personagem de “O auto da compadecida”.
Fui perguntada sobre o meu trabalho e respondi, mas no segundo bloco pedi para falar sobre o trabalho dos colegas que andavam inexplicavelmente fora da mídia (Maria Bandeira, Torres do Cabo, Boa Ventura Andrade, Oliveira Celso e Fessal, entre outros) e da falta de espaços para expor, “casualmente” obstada pelo chefe dele – Milton Alencar Jr.; e também sócio majoritário daquele canal de TV. Não vou negar que estava esperando um “corte”, mas para minha surpresa, ele ofereceu (e depois de fato disponibilizou) “no ar“ o Foyer do Teatro para exposições de Artes Plásticas. Pouco tempo depois o programa deixou de ir ao ar.
Nunca perguntei ao Guaral se então ele já sabia que eu fazia parte do Grupo Independente que no 1º de Abril (2005) tinha promovido com adesão de outros grupos o Dia da Mentira Cultural, onde pedíamos ao Prefeito (Marcos Mendes) a cabeça do então Secretário Milton Alencar. Mas o fato é que ele me deu sua palavra e enquanto esteve à frente do Teatro - e depois da Secretaria( na medida do possível); a manteve.
Ainda como diretor do Teatro municipal e a despeito da clara ojeriza da maioria dos grupos teatrais consolidados da cidade pelo então Secretário, abriu e até priorizou a agenda para espetáculos locais, evitando o quanto podia (deixavam) os enlatados da TV Globo. Mais um ato de coragem, já que como ator participou de várias novelas daquela emissora. Também não perguntei se esta preferência pelos colegas daqui, não lhe tenha valido alguma “poda” em papéis de mais destaque na plim-plim, mas pelo que se sabe do todo poderoso Canal 9, é bem possível.
Já no segundo (des)governo de Marcos Mendes, Milton Alencar passa para as “coxias” do poder e “entronizam” Guaral na Secretaria de Cultura. Para substituí-lo na direção do Teatro surge - saído das catacumbas de uma eleição perdida; a figura de Anderson Mackeyves, cuja concepção de bom Teatro passa (necessariamente) por jogar fígado cru na platéia, e que tem a confiança dos fanáticos de que o público é suficientemente burro para não perceber um plágio obvio (copia/edita/cola) - matéria publicada na “isenta” Folha dos Lagos de autoria do dramaturgo Augusto Boal, e assinada como se fosse de autoria dele. A tramóia foi descoberta e denunciada por Ravi Arrabal – que mamou teatro desde a mais tenra infância.O Sr. Mackeyves também foi o autor da “brilhante idéia” de colocar placas de identificação (do tamanho de um cartão de visitas) de metal aparafusadas sobre as telas (muitas vezes ocultando a assinatura do artista) do acervo pictórico doado pelos artistas ao Teatro. Isto fora o sucateamento do Teatro, que está como está... Mesmo como secretário, Guaral não tinha a autoridade para interferir na escolha feita, ”a dedo”, pelo seu antecessor para substituí-lo no cargo embora (em teoria) o diretor do Teatro lhe fosse subalterno.
Na Secretaria, a “missão” de Guaral (na minha modesta opinião) era levar sobre os ombros toda a herança/lambança de 14 anos de total falta de discernimento e descontrole do anterior (e único) secretário de Cultura de Cabo Frio e se possível levar a culpa de todos os desmandos por ele praticados durante sua (indi)gestão. Mas o lema de Guaral é: - “Vamos em frente!”. E aos trancos e barrancos foi em frente – e continua indo mesmo. E com isso, a Corte Palaciana dos Mendes não contava, então parte-se para, a hitleriana ”solução final”.
Que consistiu no seguinte:
Prefeitura e o Jornal Folha dos Lagos inventam o “Cidade Viva”, que em teoria seria um fórum laico por setor para “discutir a cidade” com entidades e governo tendo por “mediador” uma pessoa indicada pelo Jornal (prof. Paulo Cotias). O único setor que efetuou um encontro com a participação de entidades não atreladas ao governo (e mesmo assim porque a informação vazou), que se tem ciência foi o da Cultura. A idéia original oficialesca, possivelmente seria a de em um “chá de comadres” no Clube Tamoios, onde algumas secretarias incômodas (Meio Ambiente, Cultura e Ciência e Tecnologia) para o executivo (ou seria executor?) seriam detonadas “democraticamente”, entre outros motivos para “enxugar a máquina”. Mas como eu disse: a informação (do encontro) vazou e lá estavam representantes do Grupo Independente e da TribAL, contra nada mais e nada menos do que 13 (treze) representantes do governo ou entidades a ele ligadas. A Secretaria de Cultura estava representada pelo atual (Guaral) e pelo antigo ( Milton Alencar com seu séquito) secretários – o que causou um furdunço que deu manchete até na própria Folha dos Lagos.
A conseqüência para Meio Ambiente e Ciência e Tecnologia todo mundo sabe: foram implodidas por decreto do executivo e continuam assim – ponto e basta! Mas os “revoltosos da Cultura” se insurgiram (grande novidade) e formaram fileiras em apoio ao Secretário oficial – Guilherme Guaral; e trazendo à mesa a proposta de um Fórum Municipal de Cultura para decidir as políticas Culturais a serem adotadas com todas as entidades do setor. Conversamos longamente com o Guaral para alertá-lo de que ele poderia ser devidamente decapitado por aprovar nossa proposta (Grupo Independente e TribAL) ao que ele respondeu:
“Vamos em frente!”. E fomos!
Mais um obstáculo da conturbada trajetória transposto. Diplomaticamente a Folha dos Lagos se eclipsa e se retira da mediação na Cultura, e partimos para a organização do Fórum, quando já com tudo encaminhado (apesar das tentativas em tumultuar dos penetras oficiais – a maioria de olho no cargo de secretário), aparece a “bomba”: o Prefeito havia mandado para a Câmara uma mensagem para ser votada em regime de urgência a extinção de 3 (três) secretarias, entre elas a de Cultura. Corre-corre, carta de apoio à Cultura, lobby cerrado na Câmara, matérias em jornais, encontro no Gabinete do Prefeito com as lideranças Culturais da cidade e finalmente, o executivo, adia a execução do nosso companheiro para depois do Fórum (apesar da votação favorável da mensagem uma semana depois). Voltamos a falar com o Guaral: “ Cara! Você está prestes a se transformar no São João Batista da vez – tem certeza que quer continuar nos apoiando!?” Resposta: “Vamos em frente!” E fomos!
E isto apesar de estar já como coordenador, e sob o atento e contrafeito olhar do seu superior hierárquico Gustavo Beranger - Secretário de Turismo.
Com o apoio de Reinaldo Nicolai - representante da Veiga de Almeida; que nos cedeu gratuitamente o espaço lá fomos nós para o Fórum: hino de Cabo Frio, discurso do representante da Folha, algumas palavras do sec. de Turismo e da Vice-Prefeita Delma Jardim como representante do executivo, e com a presença de mais de 300 ( trezentas) pessoas da sociedade civil começam os trabalhos. No segundo dia – já sem a presença das “autoridades”; mais uma tentativa de desqualificar a legitimidade do Fórum com o recebimento pela mesa de uma carta de repúdio que passamos a denominar de “carta dos Malucos do Samba”. E agora Guaral? – “ Vamos em frente!” E fomos!
Propostas votadas e aprovadas, ata feita e encaminhada ao executivo pedindo a manutenção da secretaria ( entre outras) e menos de uma semana depois, numa sexta-feira à noite – pouco antes do fechamento da pauta; a Folha dos Lagos recebe um telefonema do Prefeito, anunciando a demissão de Guilherme Guaral da secretaria de Cultura e sua substituição por José Correa Batista. Guaral só não foi pego de surpresa por que um amigo ligou para ele para avisar antes mesmo que a notícia fosse publicada. A esta altura ele já tinha tudo organizado para a Conferência Municipal de Cultura (projeto do Governo Federal PNC – Plano Nacional de Cultura), respirou fundo, repassou todas as informações para o seu sucessor ( que teve a cara-de-pau de negar depois) e nos disse: “Vamos em frente”. E fomos!
Guaral não “tirou férias” por muito tempo, altivamente compareceu às Conferências Municipal e Estadual, nos deu algumas explicações sobre o funcionamento do projeto, pois o atual secretário não tinha a menor noção (alegando a tal falta de informações) tendo sua participação como Secretário na Conferência Municipal se limitado á servir café e água ao seu subsecretário (João Félix) a quem entregou a presidência da mesa. Na Conferência Estadual não fui, donde, não posso falar, mas nosso Delegado Prof. Chicão foi e pode...
Logo após Guaral foi convidado para coordenar o Depto. de História da UVA onde pelo que sei está desenvolvendo um excelente trabalho. O Sr. José Correia, de lá para cá, nada fez pela Cultura de Cabo Frio que merecesse algum destaque de agentes culturais vivos e nem mesmo dos mortos por ele homenageados. A secretaria está morta e não mais vai “em frente”, só vai para baixo e á esta altura já deve ter ultrapassado a marca estabelecida para os defuntos dos sete palmos.
Talvez receoso de ver revelada toda a baixaria acima por mim narrada - preocupação inútil pois ele não é como vocês; o (des)governo ofereceu a Guaral - via Câmara Municipal; o cargo de Gestor ( a bem da verdade criador) do Corredor Cultural daquela casa de leis que foi cúmplice na decapitação do nosso intrépido e perseverante amigo. Cargo que generosamente (para o bem maior da Cultura) ele aceitou e continua, apesar dos obstáculos e cascas de banana, indo em frente!
Muita gente alega que continua neste (des)governo porque: " Marquinho me valoriza!". Pois bem , Guaral, este não é definitivamente um pecado pelo qual as presentes e futuras gerações de Cabofrienses poderão lhe culpar! Cartão verde esperança para você!
E digo eu: “Vamos em frente”sim, Guilherme Guaral! Para frente e para o alto!
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