A Imunologia da Eleição
Um assunto que devemos considerar em Cabo Frio nas eleições do ano que vem é a memória eleitoral. Em algumas cidades ela não existe, mas em Cabo Frio existirá, e o candidato que detém este legado eleitoral é Paulo César.
Paulo foi candidato em 2004 contra Marcos Mendes, mas que na verdade era o "candidato do Alair", ainda que ele já houvesse sido deputado estadual e vice prefeito, ele era mais o "candidato do Alair" do que qualquer outra coisa. Aliás, foi como "candidato do Alair" que ele se elegeu aos cargos citados. Mas, como dizia, naquele ano de 2004 Paulo César recebeu cerca de 35.000 votos, e não se elegeu. Contudo, as pessoas que nele votaram com certeza disseram para si mesmas, "quase que ele ganha, mas também era difícil, afinal concorreu contra o candidato do Alair".
Pois bem, em 2008 Paulo novamente foi candidato, a votação de 2004 não se repetiu, mas porquê? Porque se em 2004 ele não ganhara do ˜candidato do Alair˜, como ganharia agora do próprio Alair, ou do ex-"candidato do Alair", e atual prefeito, disputando a reeleição?
Assim, quem não era Alair e por isso, em 2004, votara no Paulo Cesar, achou melhor votar desta vez no Marquinhos, pois ele e Alair estavam brigados, e Marquinhos tinha mais condições de ganhar do Alair do que Paulo César, pois era prefeito e tinha a máquina a seu favor.
E quem não era Marquinhos desta vez preferiu votar em Alair pelos mesmos motivos acima, ou seja, Alair e Marquinhos estavam brigados e Alair tinha mais chances de ganhar do Marquinhos do que Paulo César. Isto fez que os votos de 2008 se diluissem entre quem tinha reais chances de ganhar do outro.
Ocorre que em 2012 não teremos mais o Marquinhos candidato. Teremos, sim, um possível candidato do Marquinhos, mas isso nem de longe representa a mesma força que em 2004 tinha um "candidato do Alair", até porque Alair estava deixando o governo em 2004 com uma taxa de aprovação muito maior do que a que Marquinhos deixará em 2012. Por outro lado temos que saber como virá a campanha do Alair para as ruas, afinal o fantasma do registro da candidatura no TRE não é uma mera figura de retórica, ele existe, e a assessoria do Alair deve estar bem atenta, não deve deixar cair a guarda apenas confiando no fato dele estar filiado ao partido de Dornelles.
Àqueles que ainda assim disserem que para Paulo César as eleições para deputado em 2010 também não representaram a realidade de 2004, lembro que os pleitos são muito diferentes.
O fato é que neste cenário um pouco mais confuso, aqueles cerca de 35 mil eleitores que já votaram em Paulo César e "perderam" seus votos em função de quem estava na disputa, podem muito mais facilmente voltar a votar nele do que em qualquer outro candidato, fundamentalmente porque o cenário deve se apresentar mais favorável. Esta memória é a mesma conceitualmente falando ao que chamamos na medicina de memória imunológica, que vem a ser o fato do organismo produzir células de defesa contra uma determinada doença, por exemplo quando é vacinado, e então, se este organismo entrar em contato com o germe causador da doença a memória do organismo reproduz rapidamente as células que matarão aquele germe não deixando que ele fique doente.
E lembrem-se, numa cidade pequena o tempo de televisão importa, mas não é tudo. Além do mais, há 10 minutos que são divididos igualmente entre todos os partidos que apresentem candidatos, o que quer dizer que pelo menos um minutinho de propaganda na televisão Paulo César terá. E nas cidades pequenas o boca-a-boca funciona, e muito.
Mas claro, quando estamos analisando uma conjuntura não estamos antecipando um resultado, e muito menos adivinhando o que irá acontecer,da mesma forma que um organismo vacinado pode ficar doente, uma análise também pode não chegar a termo, mas nos cabe colocar algumas questões para ampliar o debate.
O fato é que Paulo César é o único candidato que apresenta esta memória eleitoral. E isto não é um fato irrelevante, por mais que achem que a saída dele do PR foi um tiro no pé.
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