Por Pedro Nascimento Araujo
Na semana passada, o Estado do Rio de Janeiro ganhou um novo Comandante-Geral da Polícia Militar. Após pouco mais de 2 anos à frente da corporação, Mário Sérgio Duarte, coronel da PM, sai de uma maneira que, a acreditar no que foi dito pelo próprio, por seus superiores, seus comandados e fontes ouvidas pela imprensa ao longo da semana, é absolutamente diferente: com honra e respeito - ao povo, ao cargo, aos superiores e aos comandados. Em um Estado no qual tais trocas costumam ter interesses políticos asumidamente em primeiríssimo lugar, não deixa de ser alentador ver uma demonstração de espírito público como a que Mário Sérgio ao pedir exoneração.
O coronel disse que a saída dele era um "imperativo categórico moral" decorrente de ter sido dele a decisão de promover o tenente-coronel Cláudio Luiz, posteriormente acusado de ser mandante do assassinato da juíza Patrícia Acioli, ao comando do Batalhão de São Gonçalo. Como suspeita-se que o tenente-coronel tenha-se valido de sua posição para perpetrar o crime, Mário Sérgio assumiu sua responsabilidade, diferentemente do que costumeiramente verificamos no Brasil. De fato, o normal seria o coronel alegar inoência e desconhecimento da situação para manter-se no cargo a partir de dois fatos. Primeiro, a própria ficha do tentente-coronel na corporação não permite suspeitar dele e, segundo, a mudança de comando que levou Cláudio Luiz ao comando do Batalhão de São Gonçalo foi uma operação de rotina com frequência quase anual e que envolve 2 dezenas batalhões. Mário Sérgio, agiu ao contrário do que se vê até mesmo no cargo mais elevado do setor público brasileiro, como ficou latente no exemplo máximo que foi-nos dado pelo então presidente Lula da Silva, que sempre alegou desconhecer e, portanto, não poder ser responsabilizado por aquilo que de errado faziam aqueles cujas nomeações ele próprio assinava.
Infelizmente, longe de uma exceção, o comportamento de Lula da Silva apenas espelhou o que sempre foi feito aqui: uma fuga sistemática das responsabilidades associadas ao poder. Algo que não ocorre em outras paragens. De fato, quando um político americano, europeu ou japonês é flagrado em ações desonrosas, suas ou de seus sobordinados, tanto na esfera particula quanto na pública, a renúncia é consequência direta. Casos extraconjugais, recebimento de favores de empresários, uso de caixa de campanha eleitoral clandestino, subordinados recebendo propina, uso privado de recursos público, assessores fantasmas, abuso de autoridade ou distribuição de passaportes funcionais a parentes - não importa a origem do erro, o resultado sempre é renúncia e seu consequente ostracismo político, além das eventuais implicações legais. Como se nota facilmente, nada que faça um político brasileiro ou sair espontaneamente de seu cargo ou ser sacado por seus superiores.
Fossem os políticos brasileiros honrados, uma atitude como a do coronel Mário Sérgio não deveria merecer uma linha sequer. É um triste sintoma de nosso atraso constatar que aqueles que estão no topo simplesmente não têm honra suficiente para assumir suas responsabilidades.
Pedro Nascimento Araujo é economista.
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