Por Pedro Nascimento Araujo
Rio de Janeiro e Bahia são unidades da federação mais distantes que o mero interregno criado pela presença de uma terceira unidade entre ambos - o Espírito Santo - pode fazer crer. Não que não haja elementos comuns na história de ambos, desde a prevalência como capitais do que viria a ser o Brasil até a participação ativa de cativos africanos na formação identitária de suas culturas. Nesta última semana, todavia, uma diferença ficou evidente: seus governadores, Sérgio Cabral e Jaques Wagner, ambos em segundo mandato, são extremos opostos em termos de segurança pública - enquanto o governador da Bahia acumula fracassos, o governador do Rio de Janeiro coleciona sucessos.
Sérgio Cabral está longe de ser uma unanimidade. Suspeitas de enriquecimento ilícito em negócios superfaturados são uma constante em sua carreira política - e o fato de voar de carona com empresários que têm negócios com seu o governo ou de morar em um milionário apartamento na praia do Leblon não ajuda em nada a reduzí-las. Além disso, no interior do Rio de Janeiro, Cabral enfrenta oposição de muitos prefeitos, insatisfeitos com o que consideram uma redução de influência desde que ele assumiu o governo. Por fim, o governador passa muito tempo longe do estado que comanda - em boa parte das vezes, está em Paris. Tudo somado, evidentemente, macula sua ficha política e pode inviabilizar sonhos mais ambiciosos de disputar a presidência; todavia, não retira os méritos de sua administração, principalmente na retomada de investimentos federais no estado e os avanços nas áreas fiscal e de segurança. E, aqui, seus méritos ficam mais evidentes quando comparados com os atrasos que Wagner legou à Bahia.
Depois de décadas de governadores que queriam usar o Palácio Laranjeiras como trampolim para o Palácio do Planalto e, com isso, faziam oposição a Brasília, Cabral teve o mérito de aliar-se ao governo federal. Os investimentos federais no estado foram retomados e a parceria teve como ápice a escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de Verão de 2016. Mas, principalmente, houve o avanço em termos de segurança pública. Questiona-se muito se Cabral sabia exatamente o que estava fazendo quando entregou a Mariano Beltrame o comando e, também, se Beltrame tinha clara noção do alcance que seu projeto atingiria. Independentemente disso - francamente, é especulação inútil diante dos resultados - o êxito é incontestável.
Querendo ou não, sabendo ou não e, principalmente, gostemos ou não, o fato é que a política de segurança pública de Cabral conseguiu um feito incomparável: virou patrimônio do povo.
Por patrimônio do povo quero dizer que foi incorporada ao cotidiano popular. Assim, após Cabral - de novo: querendo ou não, sabendo ou não e, principalmente, gostemos ou não - ter provado que é possível retomar e pacificar as favelas, é suicídio polítco perdê-las. Depois de Cabral, qualquer governador saberá que permitir que bandidos retomem as favelas das quais foram expulsos significa desgaste colossal. Com efeito, o debate político do estado a respeito de segurança pública ficará restrito a manter e ampliar o que Cabral atingiu. E isso é extremamente positivo para o povo: ampliar significa não apenas pacificar novas favelas, mas também evoluir na depuração da polícia. Com a redução nos conflitos em favelas, a polícia terá de mudar radicalmente de orientação: precisará a agir mais em prevenção e investigação e menos em conflito, uma vez que esses serão os temas em voga - e avanços na luta contra a corrupção serão imprescindíveis para o sucesso. O caminho é promissor. Portanto, a Sérgio o que é de Sérgio: reconheçamos seu mérito na seguraça pública. Reconhecer seus méritos, entrementes, não equivale a ignorar seus defeitos, especialmente as suspeitas de corrupção. E, quanto a isso, o governador e seus assessores têm muito a explicar.
Pedro Nascimento Araujo é economista.
Pedro Nascimento Araujo é economista.
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