ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA
Inevitável como a morte e o
imposto de renda são os comentários, opiniões e “achismos” bizarros, que
decoram uma grave situação de crise como a que vivemos, com o roubo de nossos
royalties.
Preferiria acreditar na miopia
irrecorrível dos palpiteiros que pululam nas entrevistas de rádio, TV e
jornais, mas infelizmente a realidade é bem outra: trata-se de malícia e
cálculo, mesmo.
Para justificar e fundamentar
minha tese, cito um argumento que tem se tornado habitual naqueles que não
enxergam o saque sofrido por três Estados da Federação como algo tão grave
assim: de que não haveria base para se alegar “quebra de contrato” pelo fato de
que as empresas petrolíferas – as pagadoras de fato dos royalties – continuarão
pagando a mesma coisa, já que não se discutiram mudanças nos percentuais pagos
e sim nos distribuídos aos Estados.
Vamos desenhar, que é pra essa
gente entender: existe uma coisa chamada “Pacto Federativo”, que nada mais é
que um contrato para que uma república funcione. Uma das cláusulas deste
contrato é a mal fadada que estipula o quanto cada unidade da Federação
receberá a título indenizatório pelos riscos e prejuízos ambientais em seus
territórios, bem como pelos gastos inevitáveis que se verão obrigados a fazer
para digerirem o enorme e súbito aumento do fluxo de gente, automóveis, cargas,
doentes, escolas para os filhos do petróleo, crimes, esgotos, iluminação
pública, novos bairros, engarrafamentos, poluição do ar e mesmo camelôs nas
calçadas, tudo resultado da corrida ao ouro negro.
Para fazer frente a estes
encargos inevitáveis, utilizou-se durante anos os dinheiros dos royalties,
previstos no citado pacto. E, de repente, tira-se tudo e as cidades que se
virem para pagar a conta da festa, pois o que importa é que o Prefeito de
Xambiobá – ilhada no meio do mato amazônico e a um milhão de quilômetros de
distância do mais leve sopro de maresia – possa reformar o coreto de sua
cidadezinha com este dinheiro – agora sim, dividido com justiça e igualdade!
Esta tunga, senhores, chama-se
“quebra do Pacto Federativo” – leia-se “rasgar um contrato”.
E a motivação é uma só: a mais
obscena rasteira política, em busca de dividendos políticos e eleitoreiros.
Entenderam agora? Ou será preciso
o Rio de Janeiro unir-se á São Paulo e Espírito Santo e fundarem uma nova
república, para que os ilustres e calmos senhores se deem conta da quebra?
Uma outra pseudo cegueira, das
várias que existem, é mais local e chama-se PCCR – Plano de Cargos, Carreira e
Salários – parido pelo ex-Mendes em plena agonia da derrota eleitoral.
Engendrou um monstro insustentável que, já sabia, não seria ele o infeliz a
amamentá-lo.
Por mais justa que seja a
pretensão de qualquer trabalhador por sua melhoria de vida – a ambição é um
direito inalienável e espantosamente esquecido, talvez porque a palavra tenha
sido proscrita dos dicionários esquerdistas – o louvável pensamento coletivista
é abolido num passe de mágica quando se trata do anúncio de tempos adversos. Aí
então vale o velho ditado “farinha pouca, meu pirão primeiro”. Que se danem a
cidade, os hospitais, as obras e todo o bem comum. O que interessa é o
reajuste! E que se dane o Prefeito e como ele vai pagar isso tudo, pois as
esquerdas acreditam piamente ser o Estado possuidor de uma máquina de fabricar
dinheiro – basta ver o que fizeram com a União Soviética, que faliu
estrondosamente e ainda arrastou a Ilha da Fantasia do Kamarada Fidel para a
vala comum da insolvência.
Pois bem, em nossos tristes
trópicos salineiros crêem os sindicalistas – e bradam á todo volume e em todas
as mídias disponíveis – que os “royalties não são destinados ao pagamento de
salários” e, por isso, o PCCR pode e deve ser pago já, de preferência tudo de
uma vez goela abaixo.
Até os mariongos sobreviventes no
Canal Itajurú sabem que salários e royalties não se bicam, por força de lei.
Mas os bravos kamaradas insistem na argumentação maliciosa, convenientemente
esquecendo que a retirada de uma cordilheira de dinheiro do tamanho
representado pelos royalties provocará o colapso da infra estrutura da cidade –
escolas e hospitais emperrarão – bem como um efeito dominó sobre toda a
economia local, resultante do simples e óbvio fato de ser a Prefeitura a maior
força motriz não apenas de Cabo Frio, mas da economia de toda a região.
Obras pararão, empreiteiras não
receberão, trabalhadores serão demitidos. A Prefeitura por sua vez terá de
fazer sua parte e cortar em sua própria carne, eliminando cargos e vantagens
dos servidores públicos, e com isso a implosão será consumada.
Mas é válido supor que quaisquer
tentativas de cortes no funcionalismo será retaliada por eles com mais e
sonoras passeatas e greves – ou seja, de todo jeito eles ganham, com ou sem
PCCR.
E a motivação, novamente, é uma
só: a mais obscena rasteira política, em busca de dividendos políticos e
eleitoreiros.
Crêem os sindicalistas que
conseguiram colocar o governo municipal em xeque-mate: se cumprir o PCCR –
mesmo com prejuízo de toda uma economia – ganha-se perante o trabalhador, que
enxergará uma liderança atuante e combativa que conseguiu vantagens.
Se não paga e, pior, corta na
carne, também ganha-se pois aviva o movimento sindical, sempre a espera do
eterno Messias chamado “justiça social” que, tal como a reforma agrária, deve
ser usado como bandeira mas jamais obtido – prejudica a dialética, eles bem
sabem.
E assim, por ambições pessoais,
vantagens políticas, imediatismo e o mais evidente egoísmo, pretendem levantar
a opinião pública contra a prudência óbvia de um experiente administrador, pois
de um jeito ou de outro sairão ganhando.
No meio de tanta cegueira e
individualismo, surge como única ponta de esperança justamente a enorme
experiência de Alair Corrêa, que serve pela quarta vez como Prefeito em Cabo Frio; uma sorte que
devemos agradecer á Deus diariamente, pois fosse outro sentado naquela cadeira
e as especulações se resumiriam á escolha de outra cidade para se viver.
Que os bravos sindicalistas
creiam que existe o “efeito dominó”, fator real, palpável e iminente, e com
potencial para implodir nossa economia.
Eles, que são preparados para
ensinar, afiados em suas didáticas, que possam aprender a lógica econômica; que
parem, em um minuto de humildade, para olhar ao redor e enxergarem outras 200
mil almas, as quais igualmente dependem do sacrifício de todos e nada tem a ver
com as ambições de poucos.
Existem ainda outras várias
cegueiras á procura de mídia, soltas por aí.
Mas creio já serem trevas demais
para artigo pouco.
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